Em 1950, ainda a guerra da independência entre vietnamitas e franceses se iniciava, já os EUA enviavam conselheiros militares e agentes da CIA (na altura, OSS) e crê-se que financiavam cerca de 80% do esforço de guerra francês. Com a derrota eminente dos franceses, os americanos tomaram gradualmente as rédeas do poder no Vietname do Sul, uma época que é bem retratada no filme “O americano tranquilo” (no original, “The quiet american”), baseado na obra homónima de Graham Greene e que conta com a interpretação de Michael Caine. Levando ao poder um católico profundamente anti-comunista, os EUA foram cúmplices num regime que baniu partidos políticos, fechou mosteiros budistas e tomou todo o tipo de medidas repressivas direccionadas à população. Tudo em nome do combate ao comunismo, o grande Satã, personificado nas nações do eixo do mal. Em protesto, vários monges imolam-se em público, imagens que correriam mundo.

Em 1964, deu-se a escalada do conflito. Com o avanço dos vietcong, o centro do Vietname parecia prestes a cair. Em Agosto desse ano, dá-se o incidente do golfo de Tonkin: 2 barcos de guerra norte-americanos são alegadamente atacados junto à costa norte-vietnamita, levando a uma resposta pronta do presidente dos EUA, Lyndon Johnson (Kennedy tinha sido assassinado poucos meses antes), com o apoio incondicional do congresso, ordenou o bombardeamento do Vietname do Norte. Em Março de 1965, as primeiras tropas de combate desembarcam em Danag e, em Dezembro desse ano, o nº de militares americanos no terreno ascende já a cerca de 185000 efectivos, atingindo o seu auge 2 anos e meio mais tarde, com 540000 homens no terreno.

A estratégia dos EUA baseava-se na “pacificação” de zonas ocupadas pelos vietcong, através de acções de “procura e destruição”, de modo a criar áreas “seguras”. Os vietcong usavam o seu conhecimento do terreno para combaterem uma guerra de guerrilha, usando redes de tunéis (como os que se podem visitar em Cu Chi, perto de Saigão), pontes e trilhos dissimulados, para surpreender o inimigo e avançar e retirar sem serem detectados.
Ao longo do tempo, a exposição mediática das elevadas baixas americanas (ainda assim, baixíssimas em comparação com as baixas militares e principalmente civis do lado vietnamita), e a perda da suposta legitimidade moral pelo bombardeamento indiscriminado usando napalm (uma das fotos mais conhecidas do século XX mostra uma menina a correr nua numa estrada, queimada, após um bombardeamento) faz com que a opinião pública americana seja cada vez mais pro-pacifista.

No início dos anos 70, a hipótese de acordos de paz começou a ser levada a sério, concretizando-se em 1973, não sem antes terem sido feitos bombardeamentos maciços como forma de “persuasão” nas negociações. Mas, ainda assim, o Nobel da paz foi entregue a Kissinger… Começou a retirada das tropas no terreno, sendo que o exército do Vietname do Sul deixou de poder esconder as suas deficiências, colapsando rapidamente. Os vietcong tomariam cidade após cidade, muitas vezes sem combate, e a 29 de Abril de 1975 os últimos americanos em Saigão são evacuados de helicóptero. Terminava assim a guerra no terreno, prolongando-se no entanto por outros meios, nomeadamente o embargo económico, que se prolongou ate 1994.

Escrevendo esta crónica em 11 de Setembro de 2011, 10 anos após os acontecimentos que marcaram indelevelmente o início do século XXI, criando novos inimigos e novas nações malfeitoras, não posso deixar de sentir um intenso deja vu e pensar que podiam existir, espalhados pelos 4 cantos do mundo, muitos museus da guerra da América e que, daqui a 30 anos, haverão talvez outros, igualmente com fotos chocantes e histórias comovedoras, em Bagdad ou Kabul. ATÉ QUANDO?